Ad immortalitatem

Há uma Fabiana que me habita que ainda não cresceu, é uma menina mimada e manhosa. Há uma Fabiana que me habita que entra na frente, tem voz forte, lidera. Ambas têm algo em comum: Eu.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

EDUCAÇÃO MUSICAL

Ao que se refere a música sou eclética. Como sou curiosa ouço de tudo, mas obviamente possuo educação musical. Sei o que é uma boa música, criada com arranjo de qualidade, que me relaxa, acalma, emociona, alegra e informa. Assim como gosto das músicas eletrônicas. Elas têm seu momento, apesar de curto. O reggae me faz vibrar. Sem MPB não vivo. Desde o tradicionalismo regional gaúcho, passando pelo samba de raiz, até Armin Van Buuren o que vier eu ouço. Pensando nisso pesquisei sobre educação musical.
Nós brasileiros estamos vivendo, por conta da explosão do acesso a internet, a música digital, uma recomposição da cultura musical. E consequentemente a música atravessa uma crise de proporção mundial.

Narcose

Com a invenção desses aparelhos de Mp3, por exemplo, as pessoas passaram a se isolarem do mundo. Colocam seus fones de ouvido e ficam numa espécie de transe musical. Um verdadeiro moto contínuo, moto perpétuo. Vista desse prisma a música parece estar a serviço da imbecialização coletiva. A música está sendo usada como narcose.

Silêncio.

Penso que a grande mensagem que a música do século XX nos deixou resume-se na importância do silêncio. O silêncio é importante. E está sendo abolido da música. Hoje ouvimos música quinze horas por dia, incessantemente. Um exemplo a esse respeito é um tipo de festa musical que chama silence party. Consiste na reunião de pessoas, em sua maioria jovens, cada qual com seu ipod, todas dançando, porém, aparentemente, em silêncio- para quem as observa de fora. Mas em seus ouvidos toca um turbilhão de "bate-estaca" que as deixa quase que "fora da casinha".
A partir do momento que as pessoas deixam de saber o valor do silêncio em relação ao som, ao ruído, penso que a música deixa de existir. Porque se só existe som, só ruídos como são essas músicas secas, sem informação, sem conceito, sem escrita e cultura não há música. O barulho não faz bem. E música não é barulho. Música é arte e conseqüentemente educação.

A música que libertava

Antigamente o importante eram as idéias, os conceitos, a cultura, o momento histórico. A boa música, a MPB, tinha ligação direta com o cotidiano das pessoas. Marcava a história da nação, era usada para transmitir algo bom como o amor, a história de um povo, para mobilizar a massa em prol de um bem comum. Era recheada de informação. Nesta época a música era usada a serviço, até mesmo, da liberdade de expressão. O que as pessoas não podiam dizer abertamente por conta da censura, diziam através da música como forma de indignação, a fim de exercer seus direitos. Os autores tinham a preocupação de estarem ligados a seu tempo. Hoje isso acabou. Os autores começaram a se afastar dessa forma de criar música como se o Brasil tivesse resolvido todos os seus problemas por que hoje temos liberdade de expressão. A música perdeu a vanguarda, as tendências, estilos, polêmicas, idéias, informações, espaço. A música perdeu a alma esmagada por um trator tecnológico. Os jornais são um exemplo disso. Abrimos o jornal e o que vemos? Cinquenta anúncios de aparelhos celulares,ipod, Mp3, uma verdadeira poluição visual. O grande “barato” atualmente são os aparelhos digitais. Esses substituíram a dignidade musical, a informação cultural.

O lucro vilão

Em meados dos anos 70 houve uma repressão muito forte no Brasil e os autores se expressavam com uma linguagem musical participante e ativa nos acontecimentos do país. Música era como literatura marcava época, era parte do momento histórico e tinha coerência com esse momento. Ultimamente isso não acontece. Os autores importam-se muito com a parte lucrativa e deixam a beleza, a informação, a alma da música de lado. Fazem shows gigantescos, lotam lugares como o Canecão uma vez por ano e ganham bilhões que Beethoven não ganhou a vida inteira. Desapareceu o senso crítico da MPB. Antigamente, por exemplo, tínhamos as belas marchinhas de carnaval com suas críticas de costumes curiosíssimos que, metaforicamente falando, tocavam o dedo nas feridas do país. Não só a música era assim. A arte em geral. As pessoas. Os jovens. Não vemos mais os nossos caras-pintadas que ganharam as ruas para exigir o impeachment de Fernando Collor da Presidência da República. Hoje nossos jovens estão mais preocupados em comprar o tênis novo da Nike. Pobres coitados!Vítimas do sistema capitalista.


Mídia

Antes um autor investia 80% da verba para produzir e 20% para divulgar. Hoje é exatamente o contrário 20% para produzir e 80% para divulgar. Divulgar seja lá o que for, é mais importante. Aparecer, estar na mídia, é mais importante. Não importa o que se está divulgando o importante é divulgar, é vender o espaço na TV aberta em horário nobre. Não existe preocupação com educação musical. Nós estamos em um dos países mais musicais do mundo e ligamos a TV e não ouvimos nossas próprias músicas. Por que? Porque MPB não dá IBOPE. Desgraça alheia dá IBOPE. Música ruím dá IBOPE. Basta que se tenha uma boa quantia em dinheiro e a tv aberta cria um sensacionalismo em cima de seja lá o que for que se pretende divulgar e tcham, tcham, tcham! O povo todo ouve, assiste. Manipulado pelo sensacionalismo. O indivíduo ouve e vê tantas vezes aquela música horrível na tv que se convence que ela é boa só porque está na tv. Pode? No brasil acontece.

Pirataria

A música virou uma commodity lucrativa. Ela se libertou do cd que a encarecia, foi para a internet onde todos têm acesso gratuito. Hoje se copia música sem cerimônias. Piratear é crime e moda no Brasil. E o que é pior: Piratear porcaria.
Hoje não se ganha mais dinheiro com cd, com música. Os músicos estão atrás, desesperadamente, dessas ferramentas da internet para tentar sair do vermelho. Então vale dizer: “Não pode com eles. Junte-se a eles.”

“A globalização está acabando com a boa música popular, clássica, erudita, com pauta, escrita, com cultura milenar. Entramos em uma espécie de esgotamento da arte. Da grande arte de se criar a boa música. “
(Júlio Medaglia - Maestro, compositor e arranjador )

Síndrome de Globo

Penso que o brasileiro precisa acabar com a mentalidade de Best Seeler. Ou seja, quando uma obra como um livro, música, filme, não está na TV Globo, não dá 90% de audiência, então, não existe. Não é boa. Isso é uma atitude típica de um povo manipulado por um único canal de informação. Essas pessoas precisam procurar outros meios de informação. Estão alienadas. Doentes. Cabe dizer até com síndrome de Globo. E essa última só abre espaço para a arte as 03h00min da manhã. Sendo que o trabalhador brasileiro acorda cedo e não tem tempo para varar madrugada aperfeiçoando sua educação.
Há uma necessidade urgente de se aprender a procurar espaços onde se cria música inteligente. Arte inteligente. O brasileiro precisa desligar a TV e ler mais.


Samba x Hip Hop

Pixinguinha, Paulinho da Viola, Cartola, Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho, Martinho da Vila, Dona Ivone Lara, essa grande geração do samba está em extinção. O samba puro, de raiz, cheio de cultura, que conta um pouco da história do país, está dando lugar a um estilo que “imita” os americanos das periferias dos EUA, fazendo valer nossa triste mania de copiar tudo dos gringos. Com uma expressão musical forte e rancorosa o Hip Hop canta os dramas das comunidades negras americanas que sofrem com a discriminação racial, mas nada têm de componentes africanos. Essa musicalidade está sendo imitada pelos jovens negros no brasil. Eles estão cantando um drama que não pertence a eles. Assimilam tudo isso, encarnam o estilo do negro americano. Não criam, não cultuam a própria cultura que é tão rica e importante. E o que é pior, a maioria deles não tem acesso a escola. E quando tem não aprendem a língua inglesa. Isso só evidencia uma supervalorização da imagem do americano como um padrão a seguir e a total falta de conhecimento do povo, que mesmo sem entender uma só palavra de Inglês canta e louva a cultura alheia, manipulado pelo sensacionalismo, pela repetição de imagens e sons. Estão drogados! São rôbos que a Rede Globo manipula.

“O negro, em nosso país, é discriminado muitas vezes por razões sociais, por representar uma faixa pobre da população e não por ter pele mais escura que a de seu semelhante - diferente do que ocorre nos Estados Unidos, onde a raiz do problema é étnica."
De forma brilhante o maestro Júlio Medaglia fala a esse respeito em sua página na internet. (http://www2.uol.com.br/juliomedaglia/oc02.htm)

Pagode.

O pagode é uma forma de sequencia do samba. O verdadeiro pagode. Mas no Brasil temos meia dúzia de autores que criam pagodes que valem a pena ouvir. O que sobra é um sincronismo. E pra ser mais radical arrisco a dizer: Um cd inteiro de um desses pagodeiros brasileiros não vale uma pausa da música de Cartola. Assim como essas duplas caipiras. Parecem duplas que tocam em porta de zona de quinta categoria. Confundem música sertaneja com bolero brega, cantado com voz de cabrito. A chamada voz trêmula. Não tem nada de sertanejo. Poucas valem um minuto de atenção.

A responsabilidade da Música

A música tem responsabilidade sobre tudo isso. Muita. Porque a música aciona o estado emocional das pessoas.
Pra melhor entender:

Dia desses voltando da Guarda do Embaú, coloquei pra ouvir no carro a música “Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor” de autoria de Assis Valente, cantada na voz de Zé Ramalho. Naquele momento- não que estivesse ouvindo a música pela primeira vez- comecei a me emocionar, a arrepiar, e a pensar:

 Como Assis Valente teve tamanha inteligência de criar uma letra que fala dos maiores romances da história da humanidade, com uma sensualidade enorme (sem vulgaridades), com uma melodia deliciosa, numa obra cheia de informações? Sensualidade reforçada na voz de Zé Ramalho, diga-se de passagem.

O que preciso dizer é que a música atinge a emoção antes da razão. Por isso ela sempre foi usada por homens como o ditador Hitler, por exemplo. Hitler se inspirava e usava a música de Wagner para a realização de suas invasões. Canções e marchas militares estimulam multidões aos campos de batalha e a sacrificar as vidas em lutas "heróicas". A música tem para a guerra uma importância que nem as armas mais modernas têm. A música tem um poder feiticeiro, além do racional. A música é um componente de alteração da sociedade e como tal precisa ser assistida. Daí a necessidade da inclusão do ensino musical. Educação musical precisa ser disciplina nas escolas do Brasil. Nossos jovens precisam aprender a ter senso crítico musical. A conhecer a boa música do seu país. Assim estariam conhecendo melhor a si mesmos e a suas origens. Estariam respeitando suas raízes e as transmitindo a gerações futuras.

Instinto de Loba.

Seguidores