Ad immortalitatem

Há uma Fabiana que me habita que ainda não cresceu, é uma menina mimada e manhosa. Há uma Fabiana que me habita que entra na frente, tem voz forte, lidera. Ambas têm algo em comum: Eu.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

BRASIL: TERRA DE NINGUÉM




Falar de futebol é difícil. Mais difícil ainda é falar da relação que este tem com a política e a mídia. Sempre vai haver alguém para contrariar. Afinal, moramos em um país onde a TV ensina – aliena - que futebol é a “paixão nacional”. Futebol é febre. De fato. Usei a palavra febre, por seu caráter doentio. E doença, não é bom.

Penso no futebol como a arma mais alienadora que a mídia tem nas mãos. Trata-se realmente, de uma tacada, ou melhor, um chute de mestre.  

Digo isso sobre o esporte e a mídia por conta da associação, que esta última cria entre álcool e ele, o futebol. Essa associação está estampada nos inúmeros comerciais de TV. Para se ter ideia, a pouquíssimo tempo atrás, a cervejaria Schincariol protestou junto ao Conselho de Auto-regulamentação Publicitária (Conar), sobre a propaganda televisiva da sua rival Brahma, onde o jogador Ronaldo do Corinthians aparecia como ator principal.

O motivo do protesto seria a imagem de Ronaldo segurando um copo de cerveja e dizendo que é “brahmeiro”- o indivíduo que bebe cerveja da marca Brahma – A propaganda fere o código de ética do Conar. A imagem sugere que o sucesso de Ronaldo, em sua carreira futebolística, estaria associado ao fato de ele consumir cerveja. Além disso, o Conar entendeu que Ronaldo é ídolo de muitas crianças e um atleta do futebol, esporte de importância olímpica.

Por esse motivo não poderia expor sua imagem, se drogando com bebida alcoólica na televisão. Depois da avaliação do Conar, a propaganda teve que passar por mudanças. A agência África, responsável pela criação do vídeo, atendeu as normas do conselho. Ao invés de dizer que é “brahmeiro”, Ronaldo diz que é “guerreiro”. A cena em que segurava o copo foi cortada da propaganda. Menos mal.

Não. Não falarei do episódio desse cidadão em um motel, com drogas ilícitas e dois homossexuais. Não precisa.

Essa relação que a mídia produz entre álcool e futebol, não acontece por acaso. Associar bebidas alcoólicas ao sensacionalismo do futebol é uma forma de vender mais cerveja, de alienar as pessoas mais e mais. É uma forma de tirar o foco dos problemas seríssimos que destroem nossa política e consequentemente, toda a estrutura do país.

A ordem é manter o povo alienado, ao ponto de fazê-lo pensar que política é banal, sem importância e que o barato é beber muito álcool - se drogar - e assistir ao futebol.

O mesmo acontece com a imagem da mulher na mídia e eu já escrevi sobre isso por aqui. Não passam de marionetes alienadas pelo sistema. A imagem da mulher no Brasil é usada com o mesmo objetivo pelo qual usam o futebol: alienar o povo.

Futebol, álcool e mulheres despidas com peitões de silicone na TV, tiram a atenção de qualquer problema. Não importa a gravidade que possa ter.

Lembrei-me do filme Anjos e Demônios, do escritor satanista Dan Brown. No filme há uma cena em que o Cardeal Strauss, vivido pelo ator Armin Muller-Stahl diz ao carmelengo Carlo Ventresca - Ewan McGregor: 

“O povo sabe o que queremos que saiba.”

Para entender isso é necessário entender muito de alienação. Muito.

Álcool e a Crise - Perguntem-se porque existem drogas lícitas.

No Brasil, 2,3% dos brasileiros, entre 12 e 65 anos, sofrem de dependência alcoólica. Esses são dados da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas. Ou seja, 2,3% dos brasileiros são bêbados, drogados!  E o que é pior: No país, das 1467 unidades de atendimento do CAPS - Centro de Atenção Psicossocial-, apenas 223 são especializadas no tratamento de álcool e drogas. Isso significa dizer que apenas 1 (um) em cada 25 (vinte e cinco) municípios do país, tem “tratamento” gratuito, para alcoólatras. Eu disse 1 (um).

O álcool é a droga lícita que mantém as mentes dos brasileiros entorpecidas e sem tratamento adequado.
Por quê? Assim não pensam! Não raciocinam! Podem ser facilmente alienados. Assim não prestam a devida atenção, que deveriam prestar, na crise do senado, por exemplo. Não lêem.  Não saem às ruas, não se indignam, não pintam suas faces, não lutam por seus ideais. E ainda pagam por isso. Tolos!
Perguntem-se:
Por que o álcool, mesmo matando muitas pessoas, seja moralmente, psicologicamente, fisicamente ainda assim, continua a ser uma droga lícita?
Perguntem-se o porquê da existência de drogas lícitas.
Qual é a finalidade da existência das drogas lícitas? Pensem.
Para mudar esse cenário, teríamos que construir um país menos corrupto, onde as elites - empresas cervejeiras que faturam bilhões de dólares, a cada segundo, com a venda de álcool - não venderiam drogas lícitas, explicitamente. Aliás, as ditas “elites” nem existiriam.
Seríamos todos iguais, sem distinções, castas, divisões de classes. Mas isso é utopia. 
Construir um novo país é utopia.

República Oligárquica

O Brasil é um país que foi governado por uma República Oligárquica – governo de poucas pessoas-, durante 40 anos (1889 – 1930). Diante disto, só poderia mesmo ser antidemocrático.
O Professor Florestan Fernandes, a meu ver, define a elite brasileira, como ninguém:
“A elite brasileira é antinacional, antidemocrática e antissocial.”
Na Constituição Federal de 1988, resultado das lutas sociais e populares das décadas de 70 e 80, tempo em que nossos jovens paravam o país, diante das injustiças, pode-se ler, bem claro, os objetivos fundamentais:

·         Construir uma sociedade justa, livre e solidária;
·         Erradicar a pobreza;
·         Reduzir as desigualdades sociais e regionais;
·         Assegurar que todo poder emana do povo.

Quem, politicamente, deveria trabalhar para assegura esses direitos?  Os senadores e deputados deveriam. É. Deveriam. Mas não o fazem. Não o fazem porque são cretinos, produtos criados pelos marqueteiros, despreparados, que zombam do povo em cenas televisivas deprimentes, onde um briga com o outro e o chama de “cangaceiro” (Tasso Jereissati -PSDB-CE - se referindo à Renan Calheiros - PMDB-AL). Recebe como resposta, que ele é um “coronel de merda”. Eis a educação daqueles que detém o poder.
Acredito que em feiras livres, dessas que se compra verduras e frutas, onde só há povão - pessoas que, muitas vezes, não tiveram boas oportunidades na vida - não há tamanha falta de vergonha na cara e educação, como há em Brasília. Uma falta absurda de decoro.

Sarney

Falam em punir o Sarney. Sempre falam em punir alguém. Piada! Que mané punir Sarney, que nada! Vão capinar sob o sol de meio dia! Isso é conversa para boi - povo - dormir. Isso é mediocridade. Para começar a pensar política justa nesse país, governado por marginais, é preciso criar uma ampla reforma política, que nunca irá acontecer.  Nunca!
As elites sempre trataram o país, o patrimônio público, com segundas intenções. Essa crise do Poder Legislativo é uma composição disto.
A chamada República foi instaurada no Brasil, numa associação entre progressistas e fazendeiros aborrecidos com a abolição da escravatura, que seguiam ordens militares, sustentando a Filosofia Positivista, contraria a democracia. Eu disse contrária ao poder do povo.
Essa República Oligárquica garantiu os interesses particulares das elites sobre os interesses públicos.  Afastou o povo da ação política e distribuiu nossas riquezas naturais, nosso patrimônio construído em 500 anos de história, para o capital internacional.
Penalizar o presidente do senado seria bom. E só. Mas ineficaz.
É necessário que as pessoas entendam que o Congresso Nacional faliu moralmente a muitos anos.
Por quê?
Um Parlamento é constituído por pessoas preparadas, sérias, responsáveis, que defendem a democracia. Porque nós só sabemos o que é um parlamento pelos valores morais, éticos. Por responsabilidades estabelecidas e cumpridas, que respeitam a Constituição Federal.
Não há moral, ética, responsabilidade e democracia no Parlamento.
Então não há parlamento.
Punir Sarney? Não. Se tivéssemos que punir, teríamos que punir a todos. Isso significa refazer uma nova história da política brasileira. Algo inalcançável. Não. Não vamos punir! Porque crimes, no Brasil, prescrevem.
País onde o presidente destina cerca de 50% do orçamento, para pagamentos de juros e amortizações – amortizar: extinguir (dívida) aos poucos – das dívidas interna e externa, não há parlamento. País onde se entrega de bandeja, 70% do patrimônio público a grupos privados, não há parlamento.
Somos assolados, diariamente, por propagandas alienadoras, mentirosas, que fazem crer que o futebol é sensacional e que com cerveja, é melhor ainda. Tudo culpa da mídia, das elites partidárias, do processo histórico cultural pobre ao qual pertence, o povo brasileiro. Culpa das grandes empresas anunciantes que, com a mídia ao seu lado, arregimentam o público em favor do mercado cervejeiro, futebolístico e outras porcarias mais. Enquanto isso a falência moral do parlamento é vista como banal e assistimos ao futebol.
Mas o povo não vê, não percebe, porque foi educado para não perceber. Aprendeu a preocupar-se, exacerbadamente, com o futebol de quarta, com o Big Brother, a Playboy, com o tênis novo da Nike, com o jogo do Flamengo, se a cerveja está gelada, se conseguem comprar a balinha – droga - para ir a Rave, e etc.
O povo está ocupado tentando o próprio suicídio cultural, físico, psíquico. O povo é gado.
A Mídia não tem pudor e muito menos interesse em buscar as causas e as possíveis saídas para a superação da crise do senado. Saturar e generalizar as denúncias são seus fieis objetivos.

A Mídia despolitiza - tirar o caráter político- e desmobiliza - desfazer a mobilização - a vida política do país. Os meios de comunicação no Brasil são o resultado desse exemplo político em crise.
E ainda, como se já não bastasse, os parlamentares querem que a reforma fique restrita, ao eleitoral. Não são bobos.

Movimentos Sociais  

Já os movimentos sociais – o Cristo dos povos - anseiam por:
· Democratizar a informação e a comunicação – o que seria ótimo visto que o telespectador absorve tudo o que a TV exibe, sem interferir em nada;
·         Democratizar o Poder Judiciário;
·         Fortalecer a democracia direta, participativa e
·         Melhorar e muito a democracia representativa – sistema eleitoral e partidos políticos.


A Reforma Política não acontecerá sem as lutas sociais que sempre levaram o país nas costas. Essas lutas nascem dentro das universidades, são feitos de nós, jovens, a chamada geração futura. Mas faz tempo que não ganhamos as ruas gritando por justiça, por democracia. A TV nos venceu! Estamos preocupados com o que a TV e todos os outros meios de comunicação, nos educaram a se preocupar. É um círculo vicioso. Nunca terá fim. Nunca.  

Futebol

A alienação através do futebol é tão absurda que existem “escolinha” que exploram os pais dizendo que seus filhos, apaixonados por futebol, poderão ser craques que nunca serão.
Sem falar sobre os milhões, que alguns jogadores - escoria intelectual nas mãos de marqueteiros e empresários ladrões - ganham, e não investem para ajudar o povo. 

E o que me deixa fula da vida é que esses imbecis vieram do povo, são da favela, do morro. Eles estão preocupados com a facilidade provocada pela tecnologia, em buscar altas performances. Estão preocupados com aspectos técnicos. Não com suas raízes. Não com seu país. São traidores!
Para se ter ideia a CBF conta 783 times. Só a Federação Paulista de Futebol, sozinha, soma 132 clubes filiados. O resultado disto são centenas de jogadores. Desse montante raras exceções alcançam a riqueza. Apenas 1 (um) ou 2 (dois) montam alguma escolinha de futebol - que não enche barriga de ninguém - e doam míseros centavos para ajudar o povo. 

O que me conforta é saber que tudo muda. A tendência é que, cada vez mais, o atleta é visto como ser humano público e como tal, social. Por isso terá que ter responsabilidade social.  Os atletas que só se preocupam com seus aspectos técnicos - vazios - terão que concorrer com os demais. Esse será o motivo pelo qual, há uma chance, deles também, destinarem parte dos seus milhões de dólares ao povo, tão esquecido. Tomara! Mas isso é tendência - utopia-. E só.

Não é coincidência que os estados, onde estão localizados os principais veículos de comunicação desse país, também são, os mesmos estados que reúnem os principais clubes. Assim a imprensa divulga os campeonatos desses clubes de elite, favorecendo a manutenção do seu status.  Mas isso é complicado demais para o povo entender.

A mesma alienação que une os brasileiros em torno da seleção brasileira de futebol os divide em diversos clubes e torcidas brasileiras. Cada região, cada estado, cada cidade possui suas principais forças do futebol. O resultado disto é que, quando se encontram, essas torcidas brigam e se matam. 

A cena que mais me comove é quando assisto na TV, os torcedores brigando. Automaticamente lembro-me do coliseu de Roma. Sim, o coliseu. Lembro-me dos combates entre gladiadores.  Principalmente quando há na plateia algum político. Neros “incendiadores” brasileiros. Lamentável!

Já ouvi relatos de fanáticos – doentes alienados ao extremo – que compram ingressos, para assistirem a jogos, com o dinheiro que deveriam comprar comida.


Copa


Com a Copa de 2014 construirão complexos esportivos enormes – dinheiro que poderia ser investido em projetos sociais - que, ao acabar a Copa, se transformarão em elefantes brancos. Essa Copa será o maior roubo da história desse país. E o povo? Vai aplaudir.      
Ninguém investe em outros esportes. Todo o mercado publicitário tem suas atenções voltadas para o futebol. Por quê?

Porque qualquer inútil que consiga chutar uma bola para frente, pode praticar futebol. A meu ver se trata de um esporte limitado. A única coisa que fascina é a imprevisão. E só. Perceba os Ronaldos da vida. O que essas criaturas têm pra falar de futebol? Nada. Quando o repórter, logo após a partida, tenta entrevistá-los o que eles dizem? Nada. Perceba os comentaristas. Aliás, não perceba. Sem comentários.

Uma nação insuperável deve praticar inúmeros esportes e promovê-los com o mesmo foco. Basquete, Vale Tudo, Vôlei, Tênis, Boxe, Capoeira, etc. Todos mais complexos que o futebol. Sem dúvidas! E nenhum deles tem a atenção que o futebol possui.

É Brasil! Tu és constituído por traidores. Senadores que se agridem. Que chama um ao outro de “cangaceiros”, na TV em horário nobre, jogadores de futebol que ganham milhões e te viram as costas, mulheres vazias que se expõem na TV como verdadeiras prostitutas, destruindo toda a classe,  povo doente, drogado e movimentos sociais inertes.

Eis a festa da alienação.   

Não vou falar da corrupção dos antidopings, dos dirigentes e árbitros corruptos. Não precisa.

Renato Russo tinha razão:

“Essa é a terra de ninguém.”



quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

INTERNET E POSTERIDADE






Eu acordo em um domingo lindo de sol e decido fazer uma trilha no Costão da Guarda do Embaú. Na volta para casa, decido passar no Shopping Itaguaçú para visitar uma exposição de artes plásticas. Antes de chegar à minha casa, sou tomada pelo desejo de locar uns filmes. Estaciono o carro na rua, do lado contrário ao da locadora. Isso significa que preciso atravessá-la. Foi quando um automóvel em alta velocidade me atropelou e morri. É. Morri! Acabou.


Lógico que estou viva e bem. Esse parágrafo foi só para lembrar o quanto a morte pode ser súbita. O quanto ficamos, a cada dia, cada vez mais perto, do dia em que não estaremos mais por aqui.  Não me parece mórbido a consciência de que esse pode ser meu último post. A meu ver, isso só agrega ainda mais valor a cada momento. Pensando em tudo isso me conforta saber, depois e dentre outras milhares de coisas que considero importantíssimas, que nasci a tempo de ver e viver a evolução do registro digital.


Registro Digital & Morte


Não curto o tal Orkut, tenho lido muito sobre o Google Wave e Twitter, mas me obrigo, pelo menos uma vez ao mês, a escrever aqui. Todos esses atuais mecanismos de comunicação são na verdade fartos registros que, posteriormente, poderão ser acessados pelas pessoas. Estando eu aqui, ou não.
Dia desses, lendo sobre o deslizamento de terra que ocorreu em Angra dos Reis-RJ e que fez desabar a pousada Sankay, resultando na morte da jovem Yumi Faraci, pensei sobre os vários registros digitais que ela, certamente, possuía. E indaguei: E agora? Deverá seus pais entrar nesses registros e viver intensamente os últimos momentos da vida, de sua filha? Ou devem se afastar para não enfrentar a dor, inenarrável, da falta?  


Isso depende da relação que eles possuem com a morte, com a perda.
Eu sempre amei escrever. Escrevo desde quatorze anos de idade. Quando comecei, eu não tinha acesso a PC. Então escrevia em diários, agendas e etc. Só eu os lia. Penso. Antes da internet, o sujeito, ao partir, deixava vagos vestígios da sua existência - como o meu diário -, indicações sobre seu cotidiano. Um retrato com alguns dizeres no verso. O cheiro no travesseiro (esse é de morrer de saudade). Uma gravação de sua voz em uma fita cassete. Todos esses registros, geralmente, pertenciam somente à família do sujeito, que deixou saudade.


Hoje esses registros podem ser vistos em escala mundial. Essa chamada rede social, tornou mais racionais nossos pensamentos, atividades diárias. Gravamos conversas e imagens, de nossa vida diária, instantaneamente. Praticamos nossa liberdade de expressão e dizemos o que pensamos da vida, de graça, em blogs. Posso postar esse artigo agora e não está mais aqui, amanhã. Porque morrer faz parte da vida. O que, realmente, importa é que a internet permite uma relação muito mais proveitosa com a posteridade.
     

Instinto de Loba.

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