Ad immortalitatem

Há uma Fabiana que me habita que ainda não cresceu, é uma menina mimada e manhosa. Há uma Fabiana que me habita que entra na frente, tem voz forte, lidera. Ambas têm algo em comum: Eu.

sábado, 26 de dezembro de 2009

PÚBLICO ALVO

Navegando por aí, atrás de vida inteligente um artigo sobre síntese e objetividade durante a criação de um texto, me tomou uns minutos. Aparentemente um bom blogueiro. Discorria sobre estrutura textual, temas e outros pontos importantes que devem ser, intimamente, conhecidos por quem deseja prender a atenção do outro, através da escrita. Até que, a meu ver, se perdeu afirmando que o autor está propício a ser trocado por outros, se ele não dosar boa porção de objetividade e entretenimento, em suas obras literárias. Continuou lost, quando relatou que “leitores deixam páginas longas com assuntos complexos, por obras mais excitantes.” Nesse ponto, como crítica que sou, questionei a mim mesma:

Para quem esse autor escreve?

Quem é esse leitor que não aprecia - ou não entende - o valor literário, geralmente complexo? Será que a opinião dele é válida?

Uma obra literária verdadeira ensina, contradiz, desperta, aguça, muda pensamentos, desenvolve opiniões, forma pensadores.

De igual forma a opinião de quem a lê. Essa precisa somar à obra, agregar, acrescentar. Eu fico a espreita quanto a quem lê minhas obras e deseja postar comentários sobre elas. Não penso em surpreender ninguém. Mas sei a que vim e por quem vim. Certa de que não foi por leitores vazios, que não sabem descodificar, interpretar obras e baseiam suas opiniões, em senso comum. A esses, não tenho nada a dizer. Podem ler minhas obras. Talvez aprendam algo. Mas não podem opinar. Não me interessa o que têm a dizer. E com licença?! Mas não é por vocês que canto.

Processo Histórico cultural

Porque as pessoas não podem ler um texto devagar, se apaixonar por cada palavra, descodificar a mensagem, viajar na leitura?
Porque não foi assim que aprenderam a ler. 

Saber ler qualquer um alfabetizado sabe. Saber descodificar e, consequentemente, captar a mensagem da obra é dom de poucos.  

Subentende-se que o leitor, a que se referia o blogueiro que citei e que procura “obras excitantes”, não deseja doar o seu tempo ao autor. A menos que esse seja capaz de lhe furtar, discreta ou indiscretamente, com seu poder de persuasão e de encantamento. Isso só acontecerá se o autor escrever somente, sobre assuntos, que interessam a esse tipo de leitor. Que sejam de fácil entendimento.

Isso pode significar ao autor furtar sua essência, em nome da popularidade. E o que é pior, popularidade de quem não tem nenhum interesse em aprender algo, realmente, bom. Como a essência de uma obra, bem desenvolvida.

A respeito da popularidade, o site Alexa, especializado em métricas de tráfego na web, listas de top sites, demografia local, urls quentes - avalia diariamente, os sites mais visitados do mundo. Em uma pesquisa global não é surpresa que o segundo site mais visitado é o Facebook. Sobre a empresa pode se ler claramente, no próprio site: 

“Facebook possui a missão de dar às pessoas o poder de partilhar e tornar o mundo mais aberto e conectado. Milhões de pessoas usam o Facebook diariamente, para manter contato com amigos, fazer upload de um número ilimitado de fotos, compartilhar links e vídeos e saber mais sobre as pessoas que encontram.”


Com isso se pode deduzir que, os internautas do mundo, estão muito mais preocupados com fatos corriqueiros da vida de outros internautas, em encontrarem amigos, companheiros, postar suas fotografias, dentre outros objetivos, do que com desenvolvimento cultural.


É como diria Mário Quintana:

“O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.”

O jardim, a que Mário se referia, é o "eu". Cuidar-se significa amar-se, aperfeiçoar-se, valorizar-se, buscar se auto-conhecer. Tudo isso inclui, estudar muito sobre si.

Como vou amar e entender o outro, se não sei quem sou? 
Se não sei de onde vim e para onde vou? 
Se não tenho consciência do meu lugar na história?

Se não resolvo meus problemas? 

Se não os resolvo sou, provavelmente,  problema para alguém.  Então, não sou um jardim.

Resolvo meus problemas em acordo com o conhecimento que tenho.

Essa pesquisa vem somar créditos a minha matéria do mês de julho de 2009 sobre Fama. Na matéria, escrevo sobre a supervalorização da imagem e, consequentemente, a desvalorização do ser, em um ângulo universal:


O site Wikipédia - enciclopédia multilíngue online livre e colaborativa, ou seja, escrita internacionalmente por várias pessoas comuns de diversas regiões do mundo, todas elas voluntarias – aparece nas pesquisas do Alexa, ocupando a sexta posição ranking dos sites mais visitados do mundo. 

É notável a despreocupação dos internautas do mundo - não só os brasileiros -, em aprimorar seu desenvolvimento cognitivo 

Nessa mesma matéria que criei, em julho de 2009, escrevo sobre essa universalidade:

Porque isso é tão universal?

Eu penso que estamos atravessando um momento civilizatório universal onde os grandes valores - valor do ser - tendem a se reduzir ao estado zero de significação. Eu vejo um acontecimento universal, não próprio, só do Brasil. As atitudes tendem a se reduzir a zero, do ponto de vista humano. Seja esse humano um americano, brasileiro, africano e etc.

Já em uma pesquisa por países, no Brasil, os usuários preferem, em primeiro lugar, o site Google - versão brasileira do buscador Google – E em segundo o Orkut. Que pertence a mesma categoria do Facebook.

Isso evidencia a falta de conhecimento e de interesse dos brasileiros, em assuntos com maior valor educativo, literário.

Espaços inteligentes como o Google Acadêmico - fornece uma maneira simples de pesquisar literatura acadêmica de forma abrangente, permitindo a pesquisa de várias disciplinas e fontes em um só lugar: artigos revisados por especialistas (peer-rewiewed), teses, livros, resumos e artigos de editoras acadêmicas, organizações profissionais, bibliotecas de pré-publicações, universidades e outras entidades acadêmicas, ajudando a identificar as pesquisas mais relevantes do mundo acadêmico - nem aparecem nas pesquisas. Porque os usuários preferem pesquisas rápidas sem muita preocupação com a procedência das informações e consequentemente, sem preocupação com a autoria das mesmas. Lamentável!

O mundo veloz de hoje, tende a não proporcionar a essência, a existência. Isso é grave.

Os recursos de hoje, tais como internet, TV e jornais, dão forma à literatura em uma confusão de informações que não deve ser entendida como saber.

Para melhor entender: 

Há informações que desinformam. Isso é fato. Em torno das obras - de todos os gêneros - há espécies de tratamentos que tendem a confundir o novo com o melhor. Desta forma desaparecem os velhos saberes e obras e, sobre tudo, desaparece o tempo de interiorização.

Tempo de interiorização: é o trazer para dentro de si, o refletir, comparar, conhecer, julgar, aprender, que uma obra requer, indispensavelmente. 

Se há uma busca contínua pelo “novo”, como um leitor terá tempo de interiorizar o que acabou de ler? 

O sujeito atenta - ou não - a uma obra, da mesma forma como faz escolhas, em outros campos da sua vida.

Todas as opiniões, decisões que ele toma são resultantes da sua personalidade, singularidade, particularidade como ser único, que é. 

Isso tem ligação direta, com o processo histórico cultural, ao qual ele está inserido.

Isso não se aplica somente a escolha do que o sujeito lê e do local que ele escolhe para efetuar suas pesquisas.  Aplica-se ao que ele opta para comer, de que forma ele dorme, se veste, trata a sua esposa, educa seus filhos, sofre, caminha, opina, organiza sua vida, escolhe sua religião, resolve seus problemas, encara desafios, perde, ganha. 

Tudo que ele faz,  ele aprendeu. Esse aprendizado pode ter sido bom ou ruim.
A vida é um eterno processo de aprendizado. 

Por isso amo Pedagogia. Trata-se de uma Ciência humana a qual todas as outras estão intrinsecamente, ligadas. Como os filhos, a uma mãe.

Tudo tem relação com o processo histórico cultural do sujeito, com a sua história de vida, seu processo de desenvolvimento humano. 

Se o sujeito aprendeu que estudar é indispensável para que alcance excelentes resultados no seu desenvolvimento humano; se aprendeu a ter disciplina, respeito, dedicação ao próximo, as chances de aplicar isso no decorrer de sua vida são só, medianas. Caso contrário, se torna difícil.
De igual forma é seu gosto pela leitura. O sujeito, em geral - fazendo vista grossa a casos específicos - só lê o que lhe interessa. Só denota atenção ao que lhe dá prazer. O que ele entende por prazer, por boa leitura.

Ao que ele entende, dentro das suas limitações.

Enfim, ao que ele foi educado para entender. Essa “educação” pode ter lhe ensinado a gostar, somente, de obras de fácil entendimento - então, nada sabe -. Porque obras assim, não exigem grandes esforços por parte do desinteressado, leitor. Não exige que ele tenha organização de pensamento, saiba raciocinar corretamente, possua capacidade de descodificação.

Obras dessa estirpe necessitam de quase nada. Porque são o nada. Por isso não somam, não ensinam e qualquer um é capaz de entender.  

Ler um texto que discorre sobre balé, pode ser um sofrimento para um mecânico. A menos que ele tenha sido educado a ter interesse por leitura em geral. Ou, talvez se trate de um curioso. Quem sabe, um mecânico bailarino?

Para quem escrevo?

Essa é a pergunta que todo escritor deveria fazer a si próprio. Certamente eu não escrevo para leitores incapazes de descodificar textos. Incapazes de interpretá-los.

Não escrevo para quem:

1-Discorda da minha opinião, só para contrariar-me;

2-Não tem opinião formada em bases literárias sólidas, ou pelo menos, baseada em interessantes e prováveis experiências de vida e tenta postar aqui, opiniões baseadas em senso comum;

É como já disse: Esses podem ler meus escritos e sintam-se a vontade para se atualizarem. Não quero saber suas opiniões. Não escrevo para agradá-los. Escrevo para alertá-los e, consequentemente, fazê-los evoluírem, enquanto seres humanos.

Isso é do bem. E é por bem, que escrevo.  

Aos ansiosos

Como Professora vivencio, diariamente, situações em que a ansiedade fracassa literalmente, adultos e crianças, na hora da leitura. É trágico! A disciplina que leciono - Informática - exige o tempo todo, que o aluno leia. Não há outro caminho para o sucesso escolar de um formando em tal disciplina – e em todas as outras. Porque não há outra forma do computador se comunicar com o usuário, que não seja através da leitura. Ou o aluno lê, aprende a se comunicar com a máquina, a interpretar, intuir seus sinais, descodificar sua linguagem, ou reprova, fracassa.

Antes de se predispor a ser autor, o sujeito precisa se conhecer, existir, ter consciência de sua existência, do seu lugar na história. Depois conhecer seu público, filtrá-lo e só então ser.

Saber o que se escreve é tão importante quanto saber para quem o faz.


Instinto de Loba.

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