Ad immortalitatem

Há uma Fabiana que me habita que ainda não cresceu, é uma menina mimada e manhosa. Há uma Fabiana que me habita que entra na frente, tem voz forte, lidera. Ambas têm algo em comum: Eu.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

INTERNET E POSTERIDADE






Eu acordo em um domingo lindo de sol e decido fazer uma trilha no Costão da Guarda do Embaú. Na volta para casa, decido passar no Shopping Itaguaçú para visitar uma exposição de artes plásticas. Antes de chegar à minha casa, sou tomada pelo desejo de locar uns filmes. Estaciono o carro na rua, do lado contrário ao da locadora. Isso significa que preciso atravessá-la. Foi quando um automóvel em alta velocidade me atropelou e morri. É. Morri! Acabou.


Lógico que estou viva e bem. Esse parágrafo foi só para lembrar o quanto a morte pode ser súbita. O quanto ficamos, a cada dia, cada vez mais perto, do dia em que não estaremos mais por aqui.  Não me parece mórbido a consciência de que esse pode ser meu último post. A meu ver, isso só agrega ainda mais valor a cada momento. Pensando em tudo isso me conforta saber, depois e dentre outras milhares de coisas que considero importantíssimas, que nasci a tempo de ver e viver a evolução do registro digital.


Registro Digital & Morte


Não curto o tal Orkut, tenho lido muito sobre o Google Wave e Twitter, mas me obrigo, pelo menos uma vez ao mês, a escrever aqui. Todos esses atuais mecanismos de comunicação são na verdade fartos registros que, posteriormente, poderão ser acessados pelas pessoas. Estando eu aqui, ou não.
Dia desses, lendo sobre o deslizamento de terra que ocorreu em Angra dos Reis-RJ e que fez desabar a pousada Sankay, resultando na morte da jovem Yumi Faraci, pensei sobre os vários registros digitais que ela, certamente, possuía. E indaguei: E agora? Deverá seus pais entrar nesses registros e viver intensamente os últimos momentos da vida, de sua filha? Ou devem se afastar para não enfrentar a dor, inenarrável, da falta?  


Isso depende da relação que eles possuem com a morte, com a perda.
Eu sempre amei escrever. Escrevo desde quatorze anos de idade. Quando comecei, eu não tinha acesso a PC. Então escrevia em diários, agendas e etc. Só eu os lia. Penso. Antes da internet, o sujeito, ao partir, deixava vagos vestígios da sua existência - como o meu diário -, indicações sobre seu cotidiano. Um retrato com alguns dizeres no verso. O cheiro no travesseiro (esse é de morrer de saudade). Uma gravação de sua voz em uma fita cassete. Todos esses registros, geralmente, pertenciam somente à família do sujeito, que deixou saudade.


Hoje esses registros podem ser vistos em escala mundial. Essa chamada rede social, tornou mais racionais nossos pensamentos, atividades diárias. Gravamos conversas e imagens, de nossa vida diária, instantaneamente. Praticamos nossa liberdade de expressão e dizemos o que pensamos da vida, de graça, em blogs. Posso postar esse artigo agora e não está mais aqui, amanhã. Porque morrer faz parte da vida. O que, realmente, importa é que a internet permite uma relação muito mais proveitosa com a posteridade.
     

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Instinto de Loba.

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