Ad immortalitatem

Há uma Fabiana que me habita que ainda não cresceu, é uma menina mimada e manhosa. Há uma Fabiana que me habita que entra na frente, tem voz forte, lidera. Ambas têm algo em comum: Eu.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O VENDEDOR DE SABONETES

Imagem do filme Clube da Luta.

Eu sou contra qualquer tipo de violência. Eu sou do Bem. Possuo responsabilidade com a profissão na qual me predispus a seguir. Meus atos, em qualquer momento da minha vida, precisam ser coerentes com o que ensino em sala de aula.  Eu preciso ser um exemplo a seguir porque eu educo o tempo todo e educar é a maior responsabilidade que existe.

Mas diante de um país onde as pessoas vivem um contexto de esvaziamento das mentes e comentem absurdos, contar até 10 se torna muito difícil. Até mesmo porque, antes de ser Professora, sou um ser humano, dotada de defeitos, imperfeições, instintos. Vivo situações de extremo stress, como qualquer outra pessoa, onde respirar, ausentar-se e calar-se são atitudes difíceis de serem tomadas, quase que impossíveis, até para uma Professora. Mas eu sempre tento.

Pensando em tudo isso, nessas fraquezas do ser humano, nesses sentimentos de revolta, senti vontade, mais uma vez, de escrever sobre alienação. Então lembrei o filme “Fight Club”- “O Clube da Luta” onde Brad Pitt vive o personagem Tyler Durden. Procurando informações relevantes sobre o filme encontrei o artigo “Projeto Tyler” que segue a baixo, com o endereço do respectivo site.

Após o artigo postei sobre o Sonho Americano; Países que conservam suas Identidades Culturais; sobre a Alienação que atravessa gerações; Mitos da Pos Modernidade; Totalitarismo; Progresso Científico e Tecnológico & Progresso Humano; Alfabetismo Funcional; Inclusão Social; Inclusão Digital e a Medida do Progresso.



"Ao contrário do que muitos pensam Clube da Luta não é sobre violência, nem a banaliza. É um filme sobre ideologia, com uma crítica bem ácida sobre a sociedade moderna. Um dos melhores filmes dos últimos tempos, do tipo que não te deixa parar de pensar, Clube da Luta vem gerando inúmeras discussões e controvérsias entre jornalistas, cinéfilas e feministas porque foi interpretado como uma obra fascista, machista ou, até mesmo, mera cópia da obra "Laranja Mecânica".

Outro fator que fez com que o filme do diretor David Fincher fosse precipitadamente, mal interpretado no Brasil, foi o incidente ocorrido no Shopping Morumbi, em São Paulo, onde um estudante de Medicina disparou sua metralhadora na direção da platéia, durante uma seção do filme. Isso fez com que a obra saísse rapidamente de cartaz, fazendo muitas pessoas não o assistirem. Além é claro, de alimentar a mídia que pisoteou o filme, acusando-o de ser o responsável pelo incidente.

Porém, antes de esboçar qualquer reação, é necessário levar em consideração que o sujeito que cometeu o crime possuía problemas de conduta e personalidade, agravados desde a adolescência, além de um envolvimento com drogas. Vale lembrar também: o próprio "maluco do shopping" revelou não ter assistido ao filme e as testemunhas não o desmentiram.

O fato é que, mesmo que o "maluco do shopping" tenha assistido ao filme um milhão de vezes, é de extremo mau gosto responsabilizar o "Clube da Luta" pelo ocorrido. Se ele estivesse numa sessão do filme "Orfeu", diriam que a violência dos traficantes cariocas o inspirou. Não é mesmo?

É importante ressaltar também, a relação alardeada pela crítica entre o filme de David Fincher e "Laranja Mecânica", o clássico de Stanley Kubrick. Os dois filmes mostram explosões de violência como válvulas de escape para o recalque provocado pela sociedade. No entanto, a comparação pára por aí. Não se pode negar que "Clube da Luta" incite à violência ou vandalismo. E eu não nego. Pois sei que filmes deste tipo são perigosos. Mas somente às mentes pretensiosas e com tendência à destruição. Isto porque o filme nos leva a tantas reflexões, que, uma análise superficial tende a apresentá-lo como revolucionário - no sentido pejorativo da palavra. E é aí que está o perigo.

Porém, o que gostaria de expor, é a minha indignação ao ver diversas críticas superficiais e precipitadas sobre o filme, mostrando o que ele na verdade não é. Clube da Luta mostra sim, o questionamento do homem na sociedade:

 "Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos ricos, estrelas de cinema e do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso".

Neste argumento do personagem Tyler Durden (Brad Pitt), vemos claramente o inconformismo, a angústia e o medo do homem ao "cair na real", e perceber que sua vida é muito mais do que as regras que ele e a sociedade estabeleceram para viver.

É quando se percebe que:

"(...) você não é o dinheiro que tem, nem o carro que dirige..."

E nota-se que o consumismo é algo totalmente supérfluo. E é aí que está uma das essências do filme: questionamento das coisas supérfluas em nossas vidas:

 "A propaganda nos faz correr atrás de coisas, trabalhos que odiamos, para acabar comprando o que não precisamos".

São essas e outras características que devem ser enxergadas em "Clube da Luta": um filme que justifica todas as acusações da influência negativa que os filmes de Hollywood têm sobre a sociedade, particularmente entre os jovens. E não existe nada mais engraçado do que colocar Brad Pitt como o personagem anti-hollywood e Edward Norton como um cara alienado e com cara de bobo.

Por falar em Pitt e Norton, é impossível negar que suas atuações foram geniais! E, sim, "Clube da Luta" é engraçado! (É perigoso que eu diga isso, pois alguns irão dizer que estou rindo da desgraça alheia, devido ao caso do "maluco do shopping"). Basta que as pessoas entendam que nem tudo o que está no filme é exatamente real. Do princípio ao fim, o filme discute o nosso perfeito "mundo moderno", mas de um jeito diferente, através da mente de Tyler Durden. Cabe a cada um decidir o que Tyler realmente era: uma alucinação de Jack? Ou a dupla personalidade do mesmo?...

Obras de arte servem para confundir, causar conflitos, reflexões. Elas não servem para explicar nada. Se se limitam a somente explicar não são obras de arte."

“Eu vejo aqui as pessoas mais fortes e inteligentes. Vejo todo esse potencial desperdiçado. A propaganda põe a gente pra correr atrás de carros e roupas. Trabalhar em empregos que odiamos para comprar merdas inúteis. Somos uma geração sem peso na história. Sem propósito ou lugar.
 Nós não temos uma Guerra Mundial. Nós não temos uma Grande Depressão. Nossa Guerra é a espiritual. Nossa Depressão são nossas vidas. Fomos criados através da TV para acreditar que um dia seriamos milionários, estrelas do cinema ou astros do rock. Mas não somos. Aos poucos tomamos consciência do fato. E estamos muito putos.
Você não é o seu emprego. Nem quanto ganha ou quanto dinheiro tem no banco.
Nem o carro que dirige. Nem o que tem dentro da sua carteira. Nem a porra do uniforme que veste. Você é a merda ambulante do Mundo que faz tudo pra chamar a atenção. Nós não somos especiais. Nós não somos uma beleza única. Nós somos da mesma matéria orgânica podre, como todo mundo.”

(Tyler Durden - Clube da Luta)


Perguntas que não calam


Pensamento de Tyler Durden e a Realidade da Pos Modernidade


“A propaganda põe a gente pra correr atrás de carros e roupas. Trabalhar em empregos que odiamos para comprar merdas inúteis.”

No Brasil, na cultura ocidental vivemos diariamente, a utopia cotidiana, o sonho americano – não brasileiro – estampado em todo lugar. O sonho do consumismo. Os meios de comunicação ensinam as pessoas que para fazerem parte da sociedade, para se sentirem pertencidas e aceitas elas precisam atender a padrões, precisam ter valores materiais. Precisam ter carros de luxo, casa própria, roupas da moda, férias na Europa, peitos de silicone e etc..

Por incrível que pareça vivemos essa sociedade onde o valor cultural não significa mais nada. Nossos costumes, tradições, nossos povos, rituais, nossa história, nossa identidade corre o risco de deixar de existir. Uma sociedade onde a mídia, a televisão decide o percurso de todas as vidas. Decide o que vamos comer, vestir, comprar, como educaremos nossos filhos, que sonhos e valores precisamos ter. Nada é verdadeiramente, naturalmente criação do povo brasileiro, por exemplo. Tudo nos foi imposto desde a época do descobrimento. Aliás, como eu já escrevi por aqui: Como seria o povo brasileiro se nós não fôssemos colonizados por Portugal? Nunca saberemos.

Países desenvolvidos da Ásia, como Japão, Singapura, Taiwan e Coréia do Sul, também possuem ligações econômicas, políticas e militares com a Europa Ocidental – Mundo Ocidental, com os EUA, com a OTAN. Mas com um diferencial muito forte:

Esses países ainda mantêm tradições, idiomas, costumes, visões de mundo que fazem parte da sua própria origem, do seu desenvolvimento indígena sem qualquer influência ocidental. Países que conservam suas identidades naturais. Países que não deixaram a influência ocidental acabar com sua cultura. Sabem do valor inestimável que ela possui. Por isso lutam para que ela atravesse gerações. Não se alienam. Não se entregam.  Sabem que preservá-la significa liberdade.

Sonho americano

Que sonhos são esses? Eles são criações do nosso “eu” individual? São desejos de nossas identidades culturais? Ou são ferramentas do Capitalismo para nos adoecer, nos alienar e nos fazer comprar mais e mais do que vendem? Baseado em que o valor do ser passou a ser medido materialmente?

Baseado na alienação que o adoece, diariamente, a todo instante.

Sonhos que não são nossos. Sonhos americanos inseridos em nossas mentes, faces, corpos, sonhos que invadem nossas casas, tomam conta de nossos pensamentos.

Lembro da minha infância querida, de quando assistia à televisão. Eram poucas as opções. Ou eu assistia a Xuxa ou à filmes de guerra, filmes americanos. Qualquer coisa era melhor do que a Xuxa. Então eu assistia aqueles combates e, de repente, um personagem matava o outro e então surgia uma bandeira que não era a bandeira da minha pátria. Era uma bandeira americana. Por quê? Por que no Brasil as crianças aprendem desde cedo a seguir sonhos que não são seus, que não fazem parte da história do seu país?  Porque seus pais, seus avós já o faziam é um ciclo vicioso muito antigo que começou na época do descobrimento e se estende à Pos Modernidade com uma força arrasadora de culturas.

Os brasileiros são alienados a idolatrarem a pátria americana desde cedo.

Gerações inteiras alienadas. Famílias que possuem processos históricos culturais que se desenvolveram por gerações e gerações dentro desse contexto. Arregimentadas a comprar exacerbadamente sonhos que não são seus. Eis o grande problema da educação no Brasil:

Como ensinar a essas pessoas e a suas famílias que quase tudo que aprenderam ao longo de suas vidas está errado?

Nossos atuais adolescentes brasileiros se drogam, se matam, assassinam famílias inteiras porque são revoltados, porque eles estão inseridos em famílias que atravessaram gerações sem resolverem seus problemas culturais, sem saberem que o caminho mais próximo a uma “espécie de felicidade” seria o caminho do autoconhecimento, da educação e não o caminho do consumismo.

Mas como seus antepassados iriam resolver seus problemas financeiros e culturais se, eles próprios, também eram vítimas das desigualdades sociais?

Se também não possuíam entendimento e condições financeiras que os permitissem terem acesso a educação? Essas pessoas existiram, cresceram no Brasil, onde o poder político escolhia quem teria acesso a educação. E isso é gravíssimo.

Mas por que o antigo poder político escolhia quem teria acesso a educação?

Porque pessoas sem conhecimento são mais facilmente manipuláveis, alienadas, escravizadas.

Isso faz de você, que se vende à padrões de beleza, à estereótipos consumistas um alienado. Um escravo do sistema.

Os adolescentes são vítimas do sistema. Os criminosos, salvo exceções, são vítimas do sistema. Comentem crimes, sofrem e fazem sofrer porque querem comprar, querem consumir, para se sentirem pertencidos, para não serem discriminados preconceituosamente. Sofrem com a utopia cotidiana. Desejam ser como os demais da sociedade, desejam ter o que eles possuem, mas não conseguem. Então sofrem, matam e morrem.


Felicidade imediata: O mito da Pós Modernidade


A Terra Antiga era católica, religião da Europa. O catolicismo ensina que felicidade é um depois. Felicidade tem relação com a morte, com eventos em transições surreais, com a incerteza, com o sacrifício da ausência total. A tão citada vida eterna.

Já o sonho americano é contrário a isso. É imediatista. Os EUA trouxeram essa “felicidade”, antes inalcançável, para o presente, para o agora. Como? Ensinando que felicidade não tem ligação com espiritualidade, com religião, existencialismo, com o “conhecer a si mesmo e ter consciência do seu lugar na história”. Ensinando que felicidade é imediatismo e está no ato de comprar o carro do ano, de colocar botox nos lábios. É a supervalorização do que se pode ter materialmente. É dar valor para a imagem. É o não dar valor para o ser, para o espiritual.




Mitos

Assim criaram-se os mitos. O mito da eterna juventude, por exemplo. Quando eu falo desse tipo de mito lembro as madames, as garotas bombadas e os políticos – sim, os políticos são produtos de marqueteiros e cirurgiões plásticos. Eles não existem sem esses profissionais – que assisto na TV, nas raras vezes que dou meu precioso tempo a ela. Quando vejo essas pessoas dou risada. Automaticamente lembro aqueles engraçados bonecos do carnaval de Olinda-Pernambuco, elas são parecidíssimas com eles. Totalmente artificiais, infladas com enxertos, costuradas, pintadas como bonecos. Mas ainda prefiro os bonecos. Pelo menos eles possuem ligações com a cultura. Diferente das vazias madames, das infladas garotas bombadas e dos corruptos políticos. Lembro, também, o documentário italiano que postei aqui, dia desses, “O corpo das mulheres”. É um belíssimo trabalho que aborda perfeitamente a desvalorização da imagem da mulher na mídia, criada por uma busca desenfreada pela eterna juventude que não existe:

A presença da mulher na TV é uma presença de quantidade, raramente de qualidade. A mulher proposta parece satisfazer e alcovitar os supostos desejos masculinos em todos os aspectos, abdicando completamente, a possibilidade de ser o “Outro”. Reduzida e auto-reduzida a objeto sexual, envolvida em uma corrida contra o tempo que a força a monstruosas deformações. Constrangida em moldura muda ou elegida para um papel de condutora em transmissões inúteis onde nunca é necessária a competência.”

(Lorella Zanardo e Marco Malfi Chindemi – “O corpo das mulheres”)


Totalitarismo

Esses mitos sugerem a exposição totalitária, narcisismo. É o conjunto de todos os sonhos que os meios de comunicação vendem. Trata-se das propagandas alienadoras com seus slogans que parecem verdadeiras ordens: Quem tem Globo tem tudo!
Trata-se dos realities shows, das exposições exacerbadas que reduzem o ser humano a nada. Já escrevi sobre isso, também. Sobre o que nos faz humanos.

Quando pessoas se exibem em realities shows onde brigam, perdem o respeito, choram, simulam cenas de sexo, transam em rede nacional em horário nobre, onde homens e mulheres dançam depravadamente, onde expõem suas fraquezas, necessidades fisiológicas e medos elas deixam de serem humanas e assumem uma face animal.

Porque nós sabemos o que é humano pelo mais humano, pela ética, pela moral, pelo respeito ao próximo, pelo comportamento correto que nos diferencia do animal.  Senão nós nos parecemos demasiadamente, irracionais.

Animais é que transam explicitamente, fazem suas necessidades fisiológicas sem se preocuparem com a privacidade, são violentos, se matam por serem irracionais.

 Nos realities shows as pessoas fazem tudo o que os animais fazem com o diferencial de serem racionais.

Na verdade o mito da Pos Modernidade, o mito desse momento da história é totalitário. Porque a exposição total é totalidade, totalitarismo. É viver através da total e constante exposição.

É renunciar a particularidade, a singularidade, a privacidade inerente ao ser humano para a construção de sua personalidade, para que possa ser diferente do outro, proteger-se dele.

O ser humano, dentro do seu processo de desenvolvimento, precisa lidar com o mistério de “quem é a outra pessoa” para que não haja a totalidade e para que haja respeito. Quando ele se expõe exageradamente, expõe suas fraquezas, acaba por abrir sua guarda para que o outro o ataque.

“Somos uma geração sem peso na história. Sem propósito ou lugar.”

Assim, equivale a dizer que a Pos Modernidade; que essa geração alienada dos realities shows, dos 15 minutos de fama, falhou culturalmente.



Progresso Científico e Tecnológico & Progresso Humano

Vivemos a falência cultural ao mesmo tempo em que vivemos o maior momento do desenvolvimento tecnológico.

O Brasil, o ocidente, vive seu maior momento de desenvolvimento científico e tecnológico, vive o progresso como nunca, mas o ser humano continua alienado. Isso prova que desenvolvimento científico e tecnológico não significa desenvolvimento humano e isso é muito perigoso.

Exemplo:

Trabalhei em uma empresa de venda a varejo de eletroeletrônicos, móveis e linha branca, conhecida nacionalmente. Trabalhava no setor de cine, foto e Informática. Na época o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou o plano de inclusão digital chamado Cidadão Conectado, que abrangia vários programas. Um deles era titulado como “Computador para Todos”, isso aconteceu entre os anos de 2005 e 2008. A meta era baratear o custo dos PCs e aumentar a inclusão digital no país. Essa transação funcionava assim:

Os clientes chegavam à loja com interesse em comprar o tal “Computador para Todos do Governo Federal”, anunciado na TV. Tratava-se de um modelo simples, com as seguintes especificações técnicas: Processador de 1,5 GHz, Disco Rígido de 40 GB, Memória RAM de 128 MB, Unidade de Disco Flexível, Modem de 56 K e Placas de rede, som e vídeo On-board (Integradas à Placa Mãe - se uma queimar, todas queimam), Sistema Operacional Linux.

Sem o hábito de usarem computadores os clientes de baixa renda encantavam-se com o modelo de preço acessível. Eram orientados quanto às formas de crédito. Poderiam optar por financiá-lo pela Caixa Econômica Federal em até 24 meses, com juros de 2% ao mês, mas teriam que pagar a tarifa de abertura de crédito de 3% sobre o valor da compra que deveria ser, no mínimo, de R$40,00. O crédito para compra era de até R$ 1,2 mil.

Ou poderiam financiá-lo pela própria empresa por R$ 1, 349 reais à vista ou em 25 parcelas de R$69,90 reais, somando um total de R$1, 747,50 reais a prazo com juros mensais de 2,99%.

O grande problema era que esses clientes pagavam durante dois anos por um produto que só possuía um ano de garantia. Para isso, a solução, para os clientes que optavam pelo financiamento da empresa, era comprar no ato da negociação uma “garantia estendida” vendida pela própria empresa. Isso aumentava o valor das parcelas. Além disso, o Sistema Operacional Linux não agradava aos clientes com sua interface gráfica escura, sem vida, nada intuitiva para quem sonhava com o mundo virtual de cores, sons e imagens. O Linux decepcionava! Como se já não bastasse os clientes, em sua maioria, não entendiam exatamente, nada de computadores, Informática e Internet.
Ouvi relatos de clientes que pensavam que, ao chegar o produto em suas casas, bastaria ligá-lo à energia elétrica e instantaneamente, poderiam navegar na Internet. Não possuíam informações sobre a necessidade de pagar mensalmente pelo acesso à rede. O que significava também, um custo a mais. 

Para resumir: 

Essas pessoas não possuíam conhecimento técnico para lidar com a nova realidade da inclusão digital da mesma forma como não sabiam comprar. Logo a nova ferramenta de nada lhes adiantaria. Eram iludidas pela corrida do progresso a qualquer custo e ainda, se endividavam por isso por dois longos anos.

Ainda há milhões de pessoas com esse perfil: navegam sem preparação. Já fazem parte da aldeia global e não sabem navegar. Não buscam espaços inteligentes. Perdem tempo com informações inúteis. Preocupam-se em demasia com a vida alheia em redes sociais. Preocupam-se com sua imagem nessas redes de forma exagerada. Não conhecem fontes de informações interessantes, não buscam o aperfeiçoamento, não possuem o hábito de ler. São analfabetos digitais e funcionais.

O Alfabetismo Funcional: resultado da tentativa desenfreada de progredir a qualquer custo.

O Instituto Paulo Montenegro - organização sem fins lucrativos, vinculada ao IBOPE, que tem por objetivo desenvolver e executar projetos na área de Educação - mede anualmente, o Inaf – Indicador de Alfabetismo Funcional da população brasileira adulta. A meta do Inaf é saber informações sobre o grau de habilidades e capacidades práticas de leitura, escrita e matemática dos brasileiros com idade entre 15 e 64 anos. O objetivo se estende a criar debates públicos que possam estimular a sociedade civil a criar subsídios para formulação de políticas de desenvolvimento da educação e cultura. 

O Inaf – Indicadores de Alfabetismo Funcional – 2009, apurado desde 2001, apresenta resultados positivos ao que se refere à escolarização dos brasileiros, mas chama a sociedade a atentar para a indispensável necessidade da melhoria da qualidade de ensino:

1-Analfabetos Absolutos: A proporção dos chamados Analfabetos Absolutos – pessoas que não conseguem realizar tarefas simples que envolvam a leitura de palavras e frases, ainda que consigam ler números familiares a seu dia a dia, como números de telefone, preços de produtos e etc.- caiu de 9% para 7% entre 2007 e 2009.

2- Alfabetismo Básico: Houve queda de seis pontos percentuais no nível rudimentar que fez ampliar a proporção dos chamados Alfabetizados Funcionalmente- Esse grupo compõe a proporção do Alfabetismo Básico - pessoas funcionalmente alfabetizadas que lêem números na casa dos milhões, resolvem problemas de sequências simples, possuem noção de proporcionalidade, compreendem textos de média extensão e são capazes de localizar informações mesmo que por dedução, mas sofrem limitações para resolver operações com maior número de elementos, etapas ou relações - e apresentou um crescimento de 34% entre os anos de 2001-2002 para 47% no ano de 2009

3-Alfabetismo Pleno: Já o nível de Alfabetismo Pleno- pessoas com habilidades de entender e interpretar elementos da sociedade letrada como ler textos mais longos, criar relações de suas partes, compararem informações, distinguir fatos de opiniões, usarem inferências e sínteses, resolver problemas que exigem planejamento, controle, percentual, proporções e cálculos de área, interpretações de tabelas de dupla entrada, mapas e gráficos - não mostrou crescimento, moveu-se dentro da margem de erro da pesquisa e manteve-se em um quarto do total dos brasileiros.




Pleno (%)
2001-2002
26
2002-2003
25
2003-2004
25
2004-2005
26
2007
28
2009
25


Isso equivale a dizer que, na chamada Pós Modernidade, tempo de inclusão digital no Brasil, não conseguimos evoluir na área da educação. Nós nos mantivemos inertes e ainda sofremos com a má qualidade da educação.

A exemplo disto existem projetos como o EJA – Educação de jovens Adultos- que retardam e aceleram o tempo do aluno em sala de aula com o objetivo de formá-lo imediatamente, para que possa competir no mercado de trabalho, o que significa uma má qualidade no ensino brasileiro e consequentemente, em todos os outros setores. Projetos desse caráter visam formar rapidamente, a mão de obra e não respeitam os estágios educacionais, o tempo certo indispensável para o desenvolvimento humano que deve ser coerente com as particularidades do ser, principalmente a faixa etária a qual pertence.

Trata-se de uma tentativa desenfreada de progredir a qualquer custo e que vem apresentando sérios problemas na sociedade atual. Formamos cidadãos incapazes que entrarão no mercado de trabalho em uma determinada posição e não irão progredir para posições mais bem renumeradas.

O Analfabetismo Funcional não garante o desenvolvimento humano e apresenta sérios prejuízos ao Brasil. Reduzindo a empregabilidade, as oportunidades de inclusão social, de inclusão digital entre os mais pobres. São pessoas que sabem ler, escrever, contar, mas não conseguem compreender, descodificar a palavra escrita. Esse problema causa forte impacto na produtividade e na competitividade nacional.

No ano de 2006 o Professor-Doutor da USP, Issao Minami pesquisou esses indicativos e concluiu que as quedas anuais de produtividade nas empresas eram provocadas por deficiências básicas dos empregados. Minami apontou a descontinuidade da educação como uma das causas do problema, seguido da má qualidade do ensino.

As deficiências básicas, apresentadas por funcionários oriundos de projetos educacionais que visam a formação educacional básica imediata, vão desde a incapacidade de ler e entender um manual de instrução até o entendimento de cursos de treinamentos internos que exigem leitura e que são essenciais para o que o funcionário possa se auto promover dentro da empresa.    


Para finalizar ainda sobre Consumismo

Mais excesso não significa Progresso

Quando compramos algo de que não precisamos, mas que compramos porque fomos seduzidos pela propaganda da TV, logo após a compra, automaticamente somos assolados por uma depressão incrível. Essa depressão é a “sede” de comprar. Nós só sabemos comprar não fomos educados a comprar o que precisamos. Não sabemos lidar com isso. Essa sede é viciante e não pode ser saciada.

Hoje compramos um automóvel que amanhã sairá de linha. Amanhã iremos desejar o outro automóvel, o lançamento. É assim nos diversos seguimentos da vida. E nós nos cercamos desses valores inúteis. E nos esquecemos, ou fomos educados a nos esquecer, que deveríamos nos conhecer mais. Conhecer a si próprios. A não aceitar esses “modelos de pessoas consumistas” impostos pela sociedade capitalista. Deveríamos estudar mais, ler mais, ter mais acesso à educação, filosofarmos mais.

Questionarmo-nos sobre esse vazio existencialista, essa inversão de valores que destrói nossas nações. A violência que assistimos diariamente, na TV possui inúmeras razões para acontecer. Mas há casos de morte por assalto, roubo, estupro que aconteceram porque, quem os cometeu desejou ter o que o outro possuía para se sentir pertencido. São pessoas educadas pela TV. Pobres oriundos de famílias que possuem gerações inteiras no crime. Que por não possuírem acesso à educação, valores familiares, condições financeiras adequadas, revoltam-se com os outros, matam e morrem.


Vamos desejar cada vez mais consumir, criar, progredir e cada vez menos nos importar com o nosso desenvolvimento humano.

Mas qual é a medida do progresso? Onde o ser humano deseja ir com tanta tecnologia, descobertas científicas incríveis, supervalorização da imagem, desvalorização do ser humano?

Pense no que acontecerá se não mudarmos. Se não buscarmos o valor do ser humano enquanto pessoa singular.

O ser humano irá sucumbir, o caos será estabelecido.

“Nós não temos uma Guerra Mundial. Nós não temos uma Grande Depressão. Nossa Guerra é a espiritual. Nossa Depressão são nossas vidas”



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Instinto de Loba.

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