Ad immortalitatem

Há uma Fabiana que me habita que ainda não cresceu, é uma menina mimada e manhosa. Há uma Fabiana que me habita que entra na frente, tem voz forte, lidera. Ambas têm algo em comum: Eu.

terça-feira, 25 de maio de 2010

A POSSÍVEL EFEMERIDADE DO CONHECIMENTO



                                     
No último domingo, durante a tarde, eu estava dormindo e meu pai bateu a porta do meu quarto dizendo que tinha uma surpresa para mim. Abri a porta e constatei que se tratava realmente, de uma surpresa: meus primos Nichollas Mello e Thiago de Melo Tavares,  vieram me visitar.


Thiago é filho de Gorete, minha prima irmã. O vemos pouco. É um doce de pessoa!  Dedicadíssimo começou a treinar ainda criança. Entendeu desde cedo que sucesso significa disciplina. Todo o esforço, garra e determinação precoce deram a ele três títulos no UFC - Ultimate Fighting Championship - http://www.ufc.com/ThiagoTavares . 


Nichollas Mello é filho de Antônio, meu jovem, mas já saudoso primo irmão. Uma figura incrível. Eu o vi nascer. 

Minha mãe, que também dormia, ouviu o nome do Thiago e veio sentar-se conosco. Falamos sobre distância, lembranças, saudade e esquecimento. Meu pai comentou sobre como os familiares, hoje em dia, se distanciam, esquecem uns dos outros. Ele disse isso porque gosta do Thiago, mas são raras às vezes em que recebemos sua visita.  Thiago completava dizendo que, mesmo estando longe de todos nós, por conta das viagens ao exterior e a outros estados para treinar, nutre muito carinho e saudades de cada um.

Enquanto conversávamos sobre esquecimento e lembranças eu pensava o que aconteceria com todo o conhecimento digital que temos hoje, um século depois de uma grande catástrofe? Pensar nisso me causou  angústia!

Os meios que usamos para armazenar informações estão cada vez mais transitórios. E nunca geramos tanta informação como agora. 


Formatos digitais efêmeros armazenam nossos dados. Discos Rígidos se transformaram em  memórias funcionais de nossa sociedade. Data Centers, - dependentes de energia elétrica - com numerosos servidores abrigam trilhões de informações. Há uma observação a se fazer sobre esses mecanismos. Havemos de atentar para um perigo eminente: armazenar, em longo prazo, informações importantíssimas, nunca foi o destino dos Discos Rígidos. Não são submetidos a testes como os usados para estimar a vida útil de formatos como o CD. Ninguém, exatamente, ninguém sabe quanto tempo eles vão durar.

Hoje conseguimos armazenar mais de 200 Gigabits por polegada (2,54 centímetros) quadrada. Ou seja, a capacidade de armazenamento dos Discos Rígidos atuais é de 200 x 1.000.000.000 de caracteres- letras- por polegada quadrada. Essa capacidade sobe muito rápido. Mas ter mais espaço de armazenamento não é garantia de segurança. Quanto mais dados você armazena em determinado material, mais você perde quando partes dele são danificadas.

Mídias Eletrônicas

A longevidade real estimada de Mídias Eletrônicas em anos pode variar conforme as condições de armazenamento das mesmas. Os CD-R (cianina) e CD-RW, DVD-RW e DVD+RW não suportam 10 anos. Têm seus dias contados em sete anos. A Memória Flash pode durar até 10 anos. A Fita Digital chega aos 13 anos. Diferente da analógica que tem longevidade de 20 anos. O CD de áudio e o filme em DVD batem os 26 anos de vida. Já os DVD-R, DVD+R e o CD-R (ftalocianina, camada de prata) podem durar até 27 anos. O campeão de longevidade é mesmo o CD-R (Ftalocianina + camada de ouro). Esse bate os 100 anos de vida por conta da sua camada reflexiva de ouro e uma camada de tintura ftalocianina.

As pessoas estão muito mais preocupadas com o aumento da velocidade e da capacidade, e não na estabilidade da informação. Mais importante que a estabilidade são as condições de armazenamento dessas mídias. Locais secos e frescos permitem uma durabilidade melhor. O problema é que nem todos os Data Centers que existem possuem essas condições especiais e é raro encontrar um que as mantenha, se faltar energia.

Saber o que preservar. Saber como preservar.

Em Moffet Field, Califórnia, os entusiastas Dennis Wingo e Cowing Keith comandam um projeto baseado no Ames Research Center da NASA. Eles descobriram que a sobrevivência física dos dados é apenas o início da longa caminhada para recuperá-los. O projeto de Wingo e Keith obteve imagens de alta resolução de antigas fitas magnéticas enviadas a Terra pelas cinco missões Lunar Orbiter em 1960. Esse material está em bom estado, mesmo depois de anos, porque foi armazenado em caixas metálicas magneticamente, impermeáveis e embalado com plásticos. Apesar disso, o grande desafio foi obter os dados brutos das fitas. Para isso os entusiastas tiveram que recuperar antigos drives de fita guardados por um ex-funcionário da NASA. O problema é que havia um lagarto morando dentro de um dos drives. Wingo e Keith buscaram durante três meses um documento com equações de demodulação, indispensável para a conversão dos dados brutos das fitas para uma forma utilizável.

Agora pense: 




Para recuperar dados de algumas fitas magnéticas preservadas em bom estado, foi preciso um grupo de entusiastas, recursos financeiros altíssimos e muitos meses. Imaginem quanto tempo, recurso financeiro e trabalho técnico-científico seria necessário para os sobreviventes de uma pós-catástrofe recuperarem dados sobre todo o conhecimento que possuímos hoje? Sem comentar que, na pós-catástrofe, a falta de pessoas, competências, equipamentos seria uma barreira muito maior do que a perda física de dados.

O que conforta é saber que a maior parte dos dados que estão armazenados em Discos Rígidos, que lotam servidores, não importam. Poderíamos viver sem eles.  Bem como muito do que herdamos de civilizações do passado. A Tábua de Vênus de Ammisaduqa, por exemplo, que contém apenas bobagens astrológicas, acrescenta o que em nossas vidas?

O que mais importa a qualquer civilização não é necessariamente, o que sobrevive por mais tempo.  Em uma pós-catástrofe do que adiantaria conhecer a sequência do genoma humano sem a tecnologia e as habilidades necessárias para explorá-lo? Sistemas operacionais são exaustivamente, copiados porque são úteis, mas na maioria das vezes o critério é a popularidade. Acredita?

Elvis Presley pode chegar ao topo das paradas de sucesso no século 22. Isso graças às inúmeras versões digitais de músicas populares que podem sobreviver por muitas décadas.  Isso equivale a dizer que quanto mais cópias existir de um conjunto de dados, maiores as suas chances de sobrevivência, descoberta e recuperação.

O conhecimento especializado, indispensável para quem estiver tentando reconstruir a civilização, como técnicas para manipular o ferro ou como produzir antibióticos, correm o sério risco de desaparecerem. Isso pode acontecer porque informações como essas existem em menor número de cópias, se comparado a outros dados muito mais populares e exaustivamente, copiados.

“Mesmo o pior tipo de papel pode durar mais de 100 anos.”  

(Season Tse)

Season Tse trabalha no Canadian Conservation Institute. Trata-se de uma agência de uso especial, criada em 1972, situada anexa ao Departamento do Patrimônio Canadense em Ottawa, Canadá. O objetivo da agência é usar a ciência para conservar o patrimônio canadense para que ele possa ser acessado por gerações futuras. Tse desenvolve projetos que visam aprimorar a conservação do papel.

Os livros duram centenas de anos, frágeis, desbotados, mas legíveis. O lado triste em saber disso é que, para os livros, vale a mesma regrinha das versões digitais de músicas: os mais populares têm mais chances de sobreviver a uma catástrofe. 




Então pense como seria decepcionante para um sobrevivente, procurando por informações relevantes em meio às ruínas de sua extinta civilização, encontrar um exemplar do álbum de figurinhas da copa do mundo de 2010? (A propósito: Copa do Mundo? Pultz! Ninguém lota estádios enormes para pedir o fim da violência contra crianças. E no Brasil a cada quatro segundos morre uma criança, vítima de violência. Espero que possamos, um dia, nos interessar em conservar informações mais úteis e que unamo-nos por uma causa menos imbecil).




Imaginei um senhor educadíssimo, intelectual, feliz por estar vivo. Um sobrevivente da catástrofe. Mas sofrendo para encontrar algo que possa salvar o que resta da sua civilização; missão que poderá mudar todo o percurso de extinção da sua espécie. E então, esse senhor se arrisca por entre os escombros e encontra um pedaço de papel. Um único pedaço de papel que  prova a existência da sua civilização. É o legado dela. Não haveria outro. Ele abre o papel. Trata-se de um jornal e advinha? O grande legado da nossa época seria a primeira página de um jornal estampando o show pornô, bizarro entre um asno (animal) e um anão (ser humano), organizado pelo jogador Adriano do Flamengo, em sua casa. Aconteceu. Acredite.

Adriano - O relo.

A verdade é que a maioria dos nossos conhecimentos científicos e tecnológicos pode ser redescoberta, reinventada. Amém! Já as pessoas, ainda não. Por isso sinto saudades do meu primo Thiago.








Entrevista de Thiago Tavres, meu primo vencedor, pra Tatame.

http://www.tatame.com.br/2010/09/26/Thiago-Tavares

Entrevista para o blog Mano a Mano do TERRA

http://gustavonoblat.blog.terra.com.br/2010/09/25/ufc-119-thiago-tavares-com-fome-de-vitoria-contra-pat-audinwood/

Sobre Thiago no site americano

http://mmaggregate.wordpress.com/2010/09/25/tavares-wins-quickly-lowe-wins-decision/

Entrevista para o UFC.com

http://www.ufc.com/news/Tavares-Newcomer-Nightmare

Entrevista para o Portal do vale tudo.

http://www.portaldovt.com.br/pt/?channel=2&id=2158


2 comentários:

Anônimo disse...

Fabiana de Melo - achar este seu artigo, ao estar procurando por outra coisa como ciacina, foi uma boa e agradável supresa. Seu conteúdo com imagens de catástrofes,etc e onde você consegue unir assuntos de família, a seguir com tecnologia de informação, com visão de futuro e falando de gente (Elvis, Futebol e do Social - mais atenção para a infância), bem COOL. Parabéns e que o Universo conspire positivamente para você atingir seus desejos pelos seus méritos (por exemplo sua casa de praia defronte ao mar , com grandes janelas de vidros, com sua família e seus animais, .. espero que assim seja...), Saudações de um paulista, que parece estar descobrindo como é ver GENTE pelos blogs: uma grande maneira!!! Abraços
WMI

Loba disse...

Essa nova perspectiva de comunicação nos permite a interação com outros povos, raças, outros pensadores, que não aqueles sugeridos necessariamente, pela mídia e outros meios. Sem sugestões. Com liberdade de escolher onde navegar, o que aprender. Isto é estar inserido, fazer parte. Nós nos movemos nessas esferas, antes privilégio de poucos e descobrimos o “ir além”, indispensável para quem pretende percorrer todos os recantos do universo. Libertar-se. Apesar do esgotamento da arte, desvalorização do ser humano, alienação, ainda assim, há este lado positivo, inegável. Muito obrigada por apreciar meu canto.


Instinto de Loba.

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