Ad immortalitatem

Há uma Fabiana que me habita que ainda não cresceu, é uma menina mimada e manhosa. Há uma Fabiana que me habita que entra na frente, tem voz forte, lidera. Ambas têm algo em comum: Eu.

quinta-feira, 3 de março de 2011

FAMA


Matéria postada em 5 de julho de 2009. Vale a pena ler novamente.


A exposição nutre a arte




“Ser é ser percebido."
(George Berkeley – 1685-1753)

Não existe a arte sem exposição. A arte sofre uma interação com a interatividade do público, mas perseguir a fama com o único objetivo de ser notado, sem a preocupação com a arte, faz com que o sujeito se torne a imagem do outro e perca sua identidade. Isso é típico do sujeito não artista. Porque o artista busca o reconhecimento, que é muito diferente da notoriedade. Na verdade, o que ele quer é ser ouvido, amado a distância, como o escritor. Para o artista a fama é uma consequência. Quando ela acontece, quando ela vem ao artista -verdadeiro artista- é uma coisa natural do trabalho dele, é parte disso. Perseguir a fama é condenável. Só se pode atribuir valor a fama natural. 



Pertencimento - Pertinescere 

Como acadêmica de Pedagogia  aprendi que é indispensável ao indivíduo que ele se sinta reconhecido pelo o outro. Caso contrário o sujeito não se sente pertencido e se torna um ser solitário, o patinho feio. Mesmo que o sujeito não seja uma figura pública, no seu meio social, no seu habitat natural ele precisa se sentir como parte do meio. Isso é saudável. Faz parte do seu desenvolvimento enquanto ser social. Mas a de se atentar para o motivo desse reconhecimento.

Ser público 

O artista - ser público- tem responsabilidade sobre a arte que divulga? Essa responsabilidade, não vai de encontro com uma característica típica dele que é a questão de ser transgressor, de tentar ir além, não só dos conceitos, artisticamente ditos, mas também comportamentais, políticos, e etc.? Esses choques entre ser público, ter responsabilidade e transgredir, como deveriam ser analisados? Penso que começa pela forma como se lida com transgressão no Brasil, ou seja, não se lida. A Constituição Federal só existe, os direitos se tornaram, excessivamente, sentimentais, não são cumpridos, de igual forma os deveres, sejam eles quais forem. Por que com a responsabilidade sobre o que se divulga seria diferente? Quando todos são transgressores, de quem é a culpa? 

Um exemplo fácil de entender é quando um indivíduo político, afirma ser religioso. Que é do bem, religioso, totalmente, contra o aborto. Afirmações essas que são de responsabilidade pública, porque o político é uma pessoa pública, exposta, tudo o que ele diz e faz é de conhecimento de toda a nação e como tal, tem que agir com responsabilidade social. E depois, quando acreditamos em tudo que ele dizia, em boa parte dos casos, nos damos conta que se tratava, na verdade, de um discurso conservador para ganhar votos. E que não há coerência entre o que ele diz e faz. O que seria legal nele, em ser uma pessoa do bem, religiosa, passa a ser um jargão cínico. Isso acontece muito na vida cotidiana do artista. É muito difícil de reconhecer quem tem a real responsabilidade. Trata-se de um círculo vicioso.

O Show da Realidade 

“A fama é fugaz e a alvorada voraz” (Paulo Ricardo Medeiros) 

Por que essas baixarias na TV, que não são típicas do Brasil, mas que ocorrem em Portugal, no México, nos EUA e etc.? Os realitys shows não vieram pra ficar. Pode a TV mudar algum dia. O que me conforta é saber que a TV, para continuar existindo, o público tem que assisti-la. E que, esse mesmo público, de repente, se cansa desse formato ou a fórmula já não rende mais e em questão de meses, o sujeito, o programa desaparecem. Tudo é efêmero na mídia. Graças! Amém! 

A cena do artista e a vida real

Porque quando a fama deixa de ser a consequência de uma vida incrível, que mereça ser divulgada ao mundo, a favor do Bem maior, como referência e passa a ser a oportunidade, metaforicamente falando, de se vestir no espelho que a mídia estende, ela se aproxima, demasiadamente, da cena, ilusória do artista. A palavra artista perdeu sua importância, já não se sustenta como antes, quando a fama era um valor social. Qualquer um é artista. É possível que essa categoria desapareça. É preciso mudar a cena onde está o artista, porque ela está próxima demais, é acessível demais ao telespectador e o telespectador não é artista, nem sempre está preparado e possui responsabilidade para tal. Neste momento some as mediações e passa existir só a cena, o ato, exageradamente, sem a relação que deveria ter entre telespectador e artista, por meio de uma terceira coisa. Essa coisa seria a fama-saudável, alcançada como resultado de valor social, ou seja, a diferença entre ambos, artista e telespectador. 

Percebida assim a fama tem um lado obsceno (desonesto). Obsceno no sentido dessa aproximação -facilitação- excessiva entre o público e quem deveria estar na cena. Com esses shows de realidade, tipo Big Brother e tal, isso está visível. A rigor se faz o artista ou se fazem anônimos artistas, ou pessoas, ou artistas se fazem ao lado de anônimos notáveis por uma repetição contínua de sua imagem -poluição visual - na televisão. Não por mérito. Nesta situação em que o artista perde sua importância a TV, a máquina, passa a ser, então, o grande artista. Porque o sujeito não quer mais assistir. Ele quer estar dentro da televisão, quer fazer parte dela, porque isso é fácil e proporciona audiência. Ter audiência é igual a ter dinheiro. Ter dinheiro é ter poder de comprar. Comprar o que se assiste. Neste momento ele, o sujeito, se torna, obscenamente, artístico. Não precisa fazer nada. Basta sorrir, basta aparecer. E é nessa obscenidade, por assim dizer, nessa zona de falta de sentido absoluto, onde no fundo, o não sentido - falta de responsabilidade social - ali é regido como valor, que o grotesco aparece. 


Grotesco 

É aquilo que nos remete ao secundário - de menor importância -, ao aberrante - que se desvia das normas. A meu ver, a melhor definição, desse tipo de programa, do ponto de vista grotesco, foi dada por uma participante, no programa a Casa dos Artistas - programa do tipo show de realidade que é transmitido pela emissora de TV SBT - que disse assim: 

"Tudo que nós fazemos é comer, fazer xixi e cocô." 

Essas são as grandes categorias do grotesco, abjeto catológico. É quando a comida, as dejeções, as fezes e todos os valores culturais são associados a isso, as ditas partes baixas. A bunda, a vagina, o pênis, o cocô, e etc. 

Por que isso é tão universal?

Eu penso que estamos atravessando um momento civilizatório universal onde os grandes valores - valor do ser - tendem a se reduzir ao estado zero de significação. Eu vejo um acontecimento universal, não próprio, só do Brasil. As atitudes tendem a se reduzir a zero, do ponto de vista humano. Seja esse humano um americano, brasileiro, africano. Quando as atitudes se reduzem, a "bunda", metaforicamente, aparece, a arte se esgota e o grotesco surge, com essa estética, da tensão, da fronteira entre o humano e o animal. Então perdemos nossas referências e não sabemos mais o que é humano e o que é animal. Porque nós só sabemos o que é humano pela ética, pela responsabilidade, pelo valor, senão nós nos parecemos, demasiadamente, com os animais. Quando deixamos de ler um bom livro e nos sentamos em frente a televisão - doamos nosso precioso tempo de vida - pra assistir a um sujeito fazer cocô, um casal brigar ou uma garota simular um ato sexual em cima de um garoto, nós rompemos a barreira que separa animal e humano. Nós retrocedemos em nosso desenvolvimento ético, educacional e assumimos uma face animal. Tornamo-nos animais. 



(...) “Todos os homens voltam para casa. Estão menos livres, mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados. Crimes suaves que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa. Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.”


(Carlos Drummond de Andrade -"A rosa do povo"- Poema: A flor e a náusea.) 


O que vai acrescentar de conhecimento a minha vida saber onde o Clodovil defecava? Será que, o que a mídia exibe hoje, na televisão é o que o povo quer assistir? Hoje em dia temos revistas, programas de TV e outros, que trabalham, até, com imagens de celebridades em cenas íntimas, em suas camas, praticando sexo, fazendo suas necessidades fisiológicas em seus banheiros e etc. O que há de cultura nisso? Nada. É muito difícil saber o que o público deseja porque, o público não tem chance de se manifestar livremente, as perguntas são feitas a partir de opções, induções, criadas pelo sistema, dentre outros objetivos, para a arregimentação do público em função do mercado. O sujeito não interfere na programação da TV . O público engole o que a televisão o empurra goela a baixo. Ora enganado e ora cúmplice. Afinal, é ele quem decide se liga ou desliga a televisão.


Chupeta 

A mídia eletrônica é ambiência, mas a grande mídia é paisagem. O sujeito entra em um restaurante hoje e vê a TV ligada. Ninguém está prestando total atenção a TV. Ela nem tem som, mas está ligada. O sujeito pode olhar para fora, pela janela do restaurante ou pode olhar para a TV. Trata-se de uma espécie de chupeta. 

Comercial 

O comercial existe para arregimentação do público em função do mercado, mas o comercial já não existe mais só para vender produto. As grandes empresas hoje, que fazem anúncios na TV, são uma espécie de mãe, aquela que passa a mão na cabeça do filho. Aquela que diz: Hoje eu estou com você. Como Cristo disse a Barrabás: “Hoje estarás comigo no paraíso.” Uma coisa assim. Como um pacifier. Isso se vê claramente nos slogans das grandes redes de TV. Slogans pacificadores com frases alienadoras do tipo: “Quem tem Globo tem tudo.” Quer dizer o sujeito não precisa estudar, comer, trabalhar. Assistir a TV já basta. 

Boneca Maçãzinha 

Eu lembro de quando eu era criança e ganhei a boneca Maçãzinha da Coleção Moranguinho da empresa Estrela. Nossa! Eu amava aquela boneca, eu apertava a barriguinha dela e ela soprava um ventinho, pela boca, com cheirinho de mação e eu achava aquilo o máximo. Eu lembro que eu queria a boneca porque, na propaganda da televisão, ela parecia que tinha vida. E depois, com o passar dos dias, quando eu me dei conta, que ela só fazia aquilo, eu senti um vazio terrível, quase uma depressão. Então é nítido que as indústrias dispõem de marqueteiros, que através da televisão, causam esse sentimento ilusório nas pessoas. Olhando por esse prisma, nós começamos a nos cercar de valores, paradigmas, conceitos esquisitos, mentirosos, ilusórios. 

Doutrina 

Em um país onde as crianças passavam - e ainda passam - dez anos de suas vidas assistindo Xuxa, quatro horas por dia, o sistema educacional não poderia ter tido outro futuro, além do caos que está agora. Façamos os cálculos: No Brasil temos mais televisão do que geladeiras e não temos escolas. Ou seja, há um retrocesso, vicioso, gravíssimo na educação, por conta da supervalorização da imagem e desvalorização do ser humano. O ser humano está sendo doutrinado, iludido, através dos meios de comunicação. Não há uma preocupação, por parte das grandes empresas anunciantes, suas respectivas promotoras de eventos e os meios de comunicação, com os danos financeiros, psicológicos, morais, sociais que possam surgir através desse tipo de divulgação. A coisa do grotesco se disfarça em torno desse paradigma de exclusão, de competição. Porque todos esses shows de realidade, por exemplo, se baseiam na exclusão dos competidores, que a princípio parecem ser amigos e depois um tem que eliminar o outro, até que resta um único ganhador. Isso é a cara do que estamos vivendo, agora: Uma corrida – competição - ansiosa, estressante atrás do capital. O dinheiro deixou de ser um recurso e passou a reger a vida das pessoas. Então as pessoas estão exageradamente, ligadas a sua profissão, porque é ela quem proporciona o vício, a droga, ou seja, o capital. Eu, Fabiana, vivo casos em que eu pergunto para as pessoas quem elas são e elas me respondem: "Eu sou vendedora", "eu sou gerente","eu sou médico", "eu sou professor" e etc. O ser humano visto como uma força de trabalho. Como uma profissão. Ele pensa, alienadamente, que ele é a profissão que ele exerce. Ele não se conhece. Está doente. 

A transgressão da classe artística

Penso que a classe artística deixará de existir. Nunca, tal classe, foi tão humilhada - nem na época da Ditadura - como está sendo agora. Vemos nossos artistas tentando, desesperadamente, uma vaga em shows de realidade, lado a lado com anônimos, porque criar música, peças de teatro, cinema, obras literárias, cultura em geral não dá mais audiência, não tem retorno financeiro. E ele se nutre disso, para poder se reafirmar, se abrir, para fazer arte.

Fama: Um espelho que você se reflete e não se encontra 

Existe a fama de palavras e a fama de imagens. Essa fama de imagens tem muito a ver com a frequência e a repetição da imagem, do indivíduo, em determinado espaço. Então há uma pequena diferença entre o famoso e o célebre. Esse valor da imagem por repetição é um valor próprio de celebridade. Essa palavra célebre vem do latim "celeber", que significa "o muito frequentado", quer dizer, indica repetição, quantidade. Então, nos tempos antigos, quando se falava em oráculo grego se dizia "celeber oráculo", ou seja, "oráculo tão consultado." E porque a quantidade, a repetição? Porque nós hoje, praticamente, vivemos em um espelho. Nós somos, gradativamente, moldados, possuímos costumes moldados às formas de sentir, de perceber por uma nova esfera (espaço) que está se acrescentando às esferas tradicionais de vida -esferas da ciência, política, sentimentos - que é a esfera da mídia. A mídia é uma esfera especial onde nós nos movemos - passamos a viver nela-. Ela se acrescenta as outras. Só que é feita de imagem. Feita de um material, digamos, não convencional. Essa imagem lembra um pouco um espelho, mas não um espelho onde as coisas se refletem. Trata-se de um espelho parecido com o espelho da Alice no país das maravilhas. Uma superfície onde nos nós encerramos e vivemos de reflexos-imagens. Portanto é uma esfera imaterial, de repercussões - perda de direção - do que se diz, do que se faz, do que se vê. Quer dizer, nós só existimos quando estamos no espelho. Só existimos quando estamos na imagem, na moda. Portanto, só existimos quando estamos na repercussão, na fama, quando somos celebridades. Então, na verdade, nós não existimos. 

Fama: máscara do sucesso

Fama e sucesso estão constantemente ligados. Mas o sucesso não é necessariamente trazido à fama. Quer dizer, o sucesso significa o resultado exitoso de uma boa ação ou de vida exemplar, de uma atitude qualquer. Trata-se do bom coroamento, por uma ação do sujeito, que tenha rendido bons frutos a uma maioria. Agora, a multiplicação do sucesso pode redundar em fama e de repente, o sujeito não precisa mais praticar a boa ação. Ele já existe na própria imagem de si mesmo, que é a fama. Então não há duvidas que a fama possa substituir a possibilidade de sucesso. O sujeito não precisa mais fazer sucesso. Basta estar na mídia, aparecer. 


A busca pela fama desvirtua a noção de arte e artista 

A noção de arte deve ser desembaraçada. É uma noção carregada de história e responsabilidade. Penso que a fama, a notoriedade, celebridade passam a substituir a intervenção simbólica do real - a realidade é o motivo para arte existir com responsabilidade - da qual, o artista, tradicionalmente tem que ter consciência. Diante do cenário artístico que vemos hoje, já não temos mais parâmetros para poder avaliar que intervenção simbólica é essa do real. Estamos em demasiado ligados, até as entranhas, ao irreal, ao imaginário, à imagem, portanto o real fica em segundo plano. Esse discurso é o discurso da fama. 
"A partir de certo ponto, não se pode mais separar a televisão do seu público." (Autor?) 
Isso significa que televisão e público são as mesmas coisas. Iguais. Eles entram em curto circuito de imagens. Um alimenta o outro. Então, a TV é masturbatória, no sentido ilusório. À medida que o sujeito assiste aos programas, de fácil entendimento, que o divertem, ele vai se tornando cúmplice de tudo àquilo que a televisão lhe dá, seja útil ou não. Não é que a televisão imponha a ele o que deva assistir. Ele vai aceitando e cada vez mais, ele é parte e não vítima. 

Violência: audiência garantida 

Há uma imensa questão entre o que se diz e o que se faz. Nunca, a partir da mídia, da imagem, foi tão gritante, a incoerência entre o que se fala e faz. Nós vivemos nessas esferas. Mas ao lado disso, está a vida real. Neste momento a violência aparece como uma contra linguagem – disfarce -, insuportável que vem das classes subalternas, sem sentido, esperança, e que aparece para disfarçar essa masturbação, essa mentira, que é a televisão. A violência, por seu caráter real, se mostra como uma cala-boca aos que dizem que a TV é ilusória. Então, a violência, é exposta na mídia, nua e crua, por dois motivos: para dar a impressão de que a TV é verdadeira, transparente, porque mostra a violência como ela é e por proporcionar muita audiência. A violência promove audiência por sua natureza feia, estúpida, brutal, contrária aos direitos e a justiça, ou seja, grotesca catológica.

O Mal e a Mídia 

Os bandidos famosos são frutos da mídia. Teoricamente eles teriam que viver anonimamente, mas frequentemente “surgem”, alheios à lei e se tornam mitos sociais. Isso não é novidade. Isso já existia desde as antigas histórias de bandidos famosos com repercussões nacionais e internacionais. A vida bandida do artista marginal é uma inversão de valores, na medida em que contestando o caos estabelecido, no espaço dele, ele tende a se comportar - ou a impor - como “mocinho”, diante dos seus. Eu penso que hoje existe um tipo de jornalismo que alimenta uma pequena fatia da bandidagem. Mas não acredito, efetivamente, que o sujeito vá se tornar marginal, mal feitor para chegar à mídia. Acredito que o sujeito que reside na periferia pode tornar-se marginal por fins estéticos. Estético em que sentido? Histeria social. Onde o marginal é aquele que transporta armas, mas é também aquele que conquista certo significado. O marginal é aquele que não fica na fila do pão. É aquele que, na favela, no meio em que vive sua vida bandida, longe de boas escolas, longe do acesso ao conhecimento, tem certo prestígio social. Quase um mocinho. Trata-se do retrato do menino da favela que quer virar bandido porque cresceu em seu meio social ouvindo que a “firma é forte” – quadrilha bem organizada-, o “bagulho é bom” - droga de boa qualidade por isso vende muito - e o processo judicial é lento. Eu penso que isso é mais forte do que a mídia. Eu não acredito que a questão da droga e do bandidismo seja influenciada pela mídia. Eu creio sim que a lógica da mídia é a mesma da droga. A droga como relação social e a mídia, também, é um tipo de relação social, ou seja, certo tipo de droga. Não acredito que a bandidagem seja piorada em função da mídia. A minha indignação é com o espaço que a mídia possui e que nem sempre o usa para boas ações, desperdiçando importantíssimas oportunidades de promover o desenvolvimento humano, faltando com a responsabilidade social.

Fama e Política 
Imagem, luz, som e pouco conteúdo 

Esses conceitos trazem vazão também na política. Falo dos candidatos políticos que surgem como celebridades, personagens de shows de realidade, verdadeiras estrelas, surgidas, mesmo que, de passados escandalosos, de classes operárias, fabricados por grandes marqueteiros. Agora, voltamos a não-diferença entre a televisão e seu público. Pois, também, não há diferença entre a televisão e o seu não-público. Aqueles que, necessariamente, não assistem TV. A exemplo disto vemos os candidatos políticos, que para se elegerem, precisam do apoio da mídia, precisam estar na mídia, serem expostos, porque a grande massa votante a assiste. Mas existe um modelo político que deve ser seguido por qualquer sujeito que pretende se expor na TV, a fim de ganhar votos. Mas muitos desses políticos, pela ausência, total, de conhecimento que possuem - e ainda assim candidatos a cargos públicos - não estão aptos a encarnarem esses modelos. Surgem, então, os marqueteiros. Profissionais que são verdadeiras fadas-madrinhas, do marketing pessoal. Transformam esses candidatos políticos, quase que num passe de mágica, através de textos, sons, imagens, na pessoa, aparentemente, mais indicada ao cargo a que se predispõe. E tchan, tchan, tchan! O povo acredita e vota nele. Isso é gravíssimo. Mas há também outro lado nessa questão. No Brasil do espetáculo um cargo político pode ser conquistado pelo fator fama ou não. A política partidária está com os dias contados na medida em que some o espaço político. Nesse momento o que resta ao político é juntar-se ao público. Deixar de ser cósmico e ser tornar cosmético. Significa que ele precisa estar maquiado, ser vendido como um produto qualquer porque, na verdade, ele não significa mais nada, do ponto de vista, do poder real (rindo). Então é a fama! Onde o sujeito político passa a ser, também, uma imagem. Ele oscila como um sabonete. De repente uma candidatura pode levá-lo aos céus, bem como, um pequeno deslize, pode levá-lo ao inferno. Porque ele está na mídia o tempo todo. Sua vida é exposta como em um show de realidade. Ele teve que entrar na dança para poder ser assistido, enquanto candidato. E esse foi o seu inferno, inevitável. Em um país onde foi atribuído um valor exacerbado a imagem, o político não tem outra solução, além de se expor exageradamente. E é nessa fronteira entre a exposição necessária -precisa ser visto para ser lembrado, votado - e a vida particular também exposta, que aparecem os podres, onde o político perde a razão, o prestígio, o respeito e, consequentemente, o voto. Pelo menos até o povo esquecer

Nenhum comentário:


Instinto de Loba.

Seguidores